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Distância dos Atos Exteriores


Estávamos nos início da década de setenta do século XX. Deveria ter dez ou onze anos apenas. No meu país (Brasil) era costume fazer-se uma novena, com reuniões nas casas das famílias. A Santa Padroeira percorria a Vila, passando de casa em casa e retornava posteriormente à sua morada, ou seja, a Igreja.

Havia chegado a vez de nossa casa, todos os vizinhos haviam se reunido de tal sorte que a pequena sala se encheu com suas presenças. As cadeiras da cozinha foram trazidas e os participantes da reza foram se acomodando. Meu pai e minha mãe estavam entre aqueles que, naquele momento, tentariam se aproximar de Deus. Muitos deles já faleceram e parece-me, não atingiram seu objetivo. A religião dominante era a Católica, entretanto o Padre (Pai em latim) não participava dessas reuniões.

Não sei qual a razão que me levou a acompanhar todo o desenrolar da cerimônia, sentado em uma cadeira de madeira, próximo à porta do quarto de dormir. Ao final, o dirigente passou a perguntar a todos, qual o momento que mais se sentiam próximos do Criador e um a um, foram respondendo, quase em nada diferindo uns dos outros, concluindo finalmente que era aquela reunião que os fazia mais próximos de Deus.

Também não me recordo se me perguntaram ou se manifestei minha opinião simplesmente por ter chegado a minha vez, mas é certo que muitos se admiraram pela colocação que foi feita.

Lembro-me que disse que o momento mais próximo de Deus para mim era exatamente antes de adormecer-me, pois rememorava o dia, analisando os bons e os maus atos, solicitando finalmente que minha alma fosse guardada para o Criador. Muitas vezes vinha a minha mente, os atos em que me sentia ridículo, ou nos quais me faltaram palavras, e os revia, procurando tirar proveito das lições. Minha mãe atribuiu a resposta, aos estudos que fazia (talvez já elevados para ela), pois estava para terminar o primário.

Hoje esta passagem de minha vida, vem demonstrar que trazia comigo o gérmen das indagações e a intuição pela procura de algo maior, que fugisse ao normal, ao exterior.

A simples repetição de frases, o reparar nos demais presentes, o ansiar pelo término, representado pelo olhar freqüente no relógio, o fazer por fazer, mecanicamente, decididamente, não fazia parte de mim.

De outra feita, firmei meu posicionamento. De nada adianta ir a Igreja, não quero ir, bradei em voz alta para a minha mãe, que aparentava desejar levar-me mesmo contra minha expressa vontade. O que é praticado na Igreja não me atrai, não sinto que é algo que poderá levar-me ao destino que devo alcançar. Graças à intervenção de meu pai, não fiz o que realmente não queria fazer.

Assim, cresci longe dos padres e da influência da Igreja Católica. Logo minhas idéias se distanciaram tanto dos dogmas, que minha mãe assustava-se comigo e por vezes pedia-me explicações sobre coisas que a sua Igreja não tinha como fazê-lo. Por toda a vida de minha mãe foi assim, embora a mesma nunca tenha deixado de ser Católica praticante.

Os livros, estes sempre foram meus companheiros. Lia muito e as notas na escola eram sempre as melhores. Considerava-me inteligente e de uma certa forma responsável. Estudava as lições com grande interesse e o resultado era as boas notas obtidas. Havia medalhas em minha época, para os primeiros colocados, sendo que a retangular, símbolo de melhor aluno da classe não me deixava.

Gostava muito de escrever. Já aos treze, catorze, quinze anos, fazia poesias e pequenos textos. Sonhava com um país livre e igual para todos. Numa das idas para a escola, comentava com um amigo a respeito, discorrendo sobre um possível modo de governar, onde todos teriam uma mesma condição de vida, crianças não passariam fome ou frio e nem ficariam desabrigadas. Haveria um Governo Central e representantes desse Governo, que exerceriam o Poder na sua região, de acordo com a filosofia do Poder maior. Num dado momento, o amigo questionou-me sobre a possibilidade de corrupção e respondi-lhe que aquele que tentasse seria punido.

Porém, foram só pensamentos. Não ingressei na política, nem disse tudo o que gostaria de dizer. O respeito pelos semelhantes, isto sim, permaneceu. Apesar de afastar-me das pessoas com comportamento exacerbado, ébrias, desejo intimamente que o despertar da humanidade seja breve e duradouro.

Hoje acredito que existam níveis de consciência e que o malvado de hoje poderá ser o benfeitor de amanhã. Naturalmente que temos livre arbítrio, e aqueles que decididamente optarem pelo mal e pela desarmonia, poderão ser destruídos pelo Criador; porém, é tema por demais complexo ao qual não adentrarei aqui. Contudo, não existe o que chamamos tempo, somos apenas. O homem comparou e mediu os fenômenos naturais, o movimento dos corpos celestes, e chamou de tempo a rotina do universo.

Como viram para os meus dez, onze, catorze, quinze, dezesseis anos, meus pensamentos até que eram bem elaborados. A Igreja ortodoxa não me satisfazia e a busca iniciou-se e perpetua-se até o presente, posto que ainda não possuo as respostas, nem os dons que busco. Não posso retirar-me desta vida, sem ter outra para viver. Acredito que o despertar será gradual, como a morte deste homem também o será (morte em termos de pensamento e despertar psíquico). As paixões, os desejos, os vícios, darão lugar à paz, à serenidade e ao poder de participar do equilíbrio do universo, de intervir no processo evolutivo e de ser o Deus que em nós habita.


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